Estudar na AACD foi como encontrar um lugar onde eu realmente me sentia visto, compreendido e apoiado. Lá, não era só uma escola; era uma extensão de quem eu era. Cada professor, terapeuta e colega parecia entender o que eu estava enfrentando. As dificuldades que, para muitos, eram invisíveis, ali recebiam atenção e cuidado. Eu podia ser eu mesmo, sem medo de julgamentos, sem precisar explicar a todo momento por que algo era mais difícil para mim.
A cada aula, a cada terapia integrada ao meu aprendizado, eu sentia que estava crescendo não apenas como estudante, mas como pessoa. Aprendi a celebrar pequenas vitórias, como escrever com mais firmeza, conseguir me deslocar com mais independência ou até mesmo participar de atividades que, antes, pareciam impossíveis. Na AACD, as limitações eram respeitadas, mas nunca vistas como barreiras intransponíveis.
Quando chegou o momento de sair dali e ir para uma escola "normal", o mundo pareceu girar de forma diferente. Era como se eu tivesse saído de um porto seguro e entrado em um mar aberto, cheio de ondas de incertezas. A ansiedade de encarar o desconhecido, o medo de não ser aceito, de ser tratado como "diferente demais", me acompanhavam todos os dias.
Na escola regular, a realidade era outra. Não havia aquela sensibilidade natural para entender que eu tinha necessidades específicas. Às vezes, as pessoas olhavam mais para o que eu não conseguia fazer do que para o que eu fazia com esforço e dedicação. Eu precisava me adaptar a um ambiente que nem sempre estava pronto para me receber, e isso exigiu muito de mim.
Houve momentos de frustração, como quando eu precisava de mais tempo para fazer uma tarefa e não conseguia explicar isso sem parecer que estava pedindo "ajuda demais". Mas também houve momentos de superação. Cada pequeno passo que eu dava ali — cada amizade feita, cada prova vencida, cada aula concluída — me mostrava que eu era capaz de encarar o mundo fora daquela bolha de proteção.
Essa transição foi difícil, mas me ensinou muito sobre resiliência, sobre encontrar minha voz e meu espaço em um mundo que nem sempre está preparado para nos incluir. Eu nunca esquecerei a AACD e tudo o que ela me deu, mas ir para a escola regular foi um passo importante para entender que eu também pertenço a todos os lugares, e não apenas aos que foram moldados para mim. Foi desafiador, sim, mas foi uma das maiores lições da minha vida.
Sair da escola e encarar o mercado de trabalho foi como enfrentar uma nova montanha, ainda mais íngreme e cheia de obstáculos inesperados. Se na escola eu já sentia que precisava provar o meu valor, no trabalho isso parecia ainda mais intenso. Era como se, antes mesmo de me conhecerem, as pessoas olhassem para a minha deficiência e colocassem um ponto de interrogação sobre o que eu seria capaz de fazer.
As entrevistas de emprego eram, muitas vezes, mais sobre os meus limites do que sobre as minhas habilidades. O olhar de dúvida, as perguntas que pareciam buscar um motivo para dizer “não”... Tudo isso me testava. Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que, se havia chegado até ali, não era para desistir. Eu precisava mostrar que, apesar das dificuldades, eu era tão capaz quanto qualquer outro.
Quando finalmente consegui meu primeiro emprego, a sensação foi um misto de alegria e medo. Alegria porque era uma conquista enorme, uma prova de que minha determinação estava valendo a pena. Medo porque o mundo do trabalho era um lugar onde eu teria que me adaptar a um ritmo que, muitas vezes, não parecia considerar as minhas necessidades.
Os primeiros dias foram difíceis. Eu precisava aprender rápido, mas também precisava lidar com os desafios físicos e com a falta de acessibilidade em muitos aspectos. Sentar por longos períodos, acessar espaços que não eram adaptados, lidar com equipamentos que não tinham sido pensados para alguém com as minhas limitações... Tudo isso tornava cada dia uma batalha.
Mas o maior desafio era emocional. Eu sentia que precisava me esforçar o dobro para ser reconhecido pelo meu trabalho, e não pela minha deficiência. Tinha medo de que qualquer erro fosse visto como uma falha não minha, mas da minha condição. Essa pressão constante me consumia, mas também me motivava a seguir em frente.
Com o tempo, fui conquistando meu espaço. Fiz amizades que me ajudaram a me sentir parte da equipe, aprendi a adaptar as tarefas às minhas possibilidades e, principalmente, a valorizar cada pequena vitória. Não foi fácil. Ainda enfrento preconceitos e barreiras que parecem invisíveis para quem não vive essa realidade.
O mercado de trabalho é um campo de prova constante, mas também é onde eu encontrei uma nova forma de me reinventar. Cada desafio superado é uma lembrança de que, embora o caminho seja mais longo para quem tem deficiência, ele também pode ser cheio de conquistas que valem a pena. E, acima de tudo, é uma oportunidade de mostrar ao mundo que todos nós temos um lugar e um propósito.
Fui aprendiz por um ano, em 2015, e essa experiência foi um divisor de águas na minha vida. Aquele era o meu primeiro contato real com o mercado de trabalho, e eu sabia que teria que dar o meu melhor. Não foi fácil no começo, porque tudo era novo e eu ainda carregava comigo o medo de não atender às expectativas. Mas também foi emocionante, porque finalmente eu estava colocando em prática algo que sempre desejei: mostrar que, com esforço e determinação, eu podia ir além.
Durante o ano de aprendizado, cada dia foi uma lição. Desde os pequenos detalhes, como me organizar para cumprir os horários, até os momentos de interação com a equipe, tudo me ensinava algo novo. Eu me sentia desafiado, mas ao mesmo tempo reconhecido. O apoio de algumas pessoas no trabalho me dava forças para continuar, mesmo quando as tarefas pareciam difíceis ou quando surgiam dúvidas sobre minhas capacidades.
No final daquele ano, recebi a notícia de que seria efetivado. Foi um dos momentos mais marcantes da minha vida. Aquela sensação de que o meu esforço tinha sido reconhecido era indescritível. Eu não apenas tinha conquistado um emprego, mas também um lugar onde comecei a me sentir útil e valorizado.
Durante os cinco anos como efetivo, vivi uma mistura de emoções. De um lado, havia o orgulho de estar empregado, de poder ajudar minha família e de me sentir parte de algo maior. De outro, os desafios diários continuavam. Muitas vezes, percebia que as oportunidades de crescimento dentro da empresa não chegavam até mim com a mesma facilidade que para outros colegas. Era como se eu tivesse que provar constantemente que era capaz, mesmo depois de tanto tempo ali.
Ainda assim, encontrei maneiras de fazer meu trabalho ter significado. Os momentos mais especiais eram as rodas de conversa, as palestras internas e os eventos que eu ajudava a organizar. Ali, eu sentia que podia ir além do meu cargo, que minha voz era ouvida e que eu fazia diferença para outras pessoas.
Esses cinco anos me ensinaram muito sobre resiliência, paciência e sobre a importância de acreditar no meu potencial, mesmo quando o mundo à minha volta não parecia tão certo disso. Embora não tenha avançado em termos de posição ou responsabilidades, saí daquele período com algo muito maior: amizades, aprendizado e a certeza de que o trabalho é mais do que um salário; é uma forma de impactar o mundo ao nosso redor, por menor que seja o alcance.
Deixar esse ciclo para trás foi difícil, mas também me deu forças para buscar novos horizontes. Afinal, se eu consegui construir tudo isso em cinco anos, o que mais seria possível no futuro?
No terceiro ano de efetivação, comecei a perceber que estava me acomodando. A rotina estava se tornando repetitiva, e eu não sentia mais aquela energia de crescimento e aprendizado que me impulsionava no início. Parecia que eu havia atingido um platô, onde tudo se tornava previsível e, de certa forma, confortável, mas ao mesmo tempo, eu sabia que esse conforto estava me impedindo de evoluir. Eu desejava mais, queria desafios que me forçassem a sair da zona de segurança e me mostrassem novas formas de me superar.
No quarto ano, comecei a pensar mais profundamente sobre isso. Eu sabia que a minha felicidade e evolução profissional dependiam de dar um passo a mais. Decidi pedir transferência para outra unidade da empresa, algo que me tiraria da minha zona de conforto, mas ao mesmo tempo me traria novos desafios e aprendizados. O processo de transferência foi longo, e houve momentos de insegurança. Será que eu estava fazendo a escolha certa? E se não fosse o que eu esperava? As dúvidas pairavam sobre mim, mas o desejo de mudar e crescer foi mais forte.
Finalmente, no quinto ano, a oportunidade se concretizou. Recebi a notícia de que seria transferido para uma cidade nova, um lugar totalmente diferente, e, para minha surpresa, não só a cidade seria nova, mas também a experiência de morar sozinho. Foi uma reviravolta. Eu estava deixando para trás a estabilidade que havia construído, as amizades que fiz, e o conforto da familiaridade para me lançar em uma nova jornada. A ideia de morar sozinho era ao mesmo tempo empolgante e assustadora. Eu teria que me reorganizar, aprender a me cuidar de forma independente e lidar com as responsabilidades de estar longe de tudo o que conhecia.
Cheguei à nova cidade com um misto de excitação e ansiedade. Estava ansioso para os desafios, mas também sentia um vazio por estar tão longe da minha antiga rotina. A sensação de solidão, de ter que começar do zero em todos os aspectos, foi algo que me pegou de surpresa. Mas, ao mesmo tempo, era a oportunidade de me reinventar. Morar sozinho me ensinou mais sobre mim mesmo do que eu imaginava. Eu precisei aprender a me organizar, a ser mais responsável e, principalmente, a ser mais autossuficiente.
Foi um processo de adaptação intenso. Desde encontrar um novo lugar para morar, que atendesse às minhas necessidades, até me acostumar com a solidão de estar longe de tudo o que era familiar. Mas, com o tempo, eu fui criando minha nova rotina. O trabalho, que no começo parecia o maior desafio, acabou sendo uma das minhas maiores fontes de estabilidade e motivação. A mudança de cidade também trouxe novas amizades, novas perspectivas, e uma sensação renovada de propósito.
A cada dia, fui sentindo que aquela decisão de pedir transferência e me mudar foi uma das mais importantes da minha vida. Embora a jornada fosse desafiadora, ela me mostrou que a vida é feita de momentos de transição e de crescimento. Aquele momento de desconforto e insegurança me impulsionou a ser mais forte, mais resiliente e mais consciente de quem eu sou e do que posso conquistar. E, ao olhar para trás, percebi que cada passo dessa jornada, desde os primeiros dias na empresa até a decisão de me transferir para uma cidade nova, foi parte de um caminho que me preparou para algo maior e mais significativo.
Sempre fui movido pelo meu sonho de conquistar independência, autonomia e liberdade. Desde cedo, essas palavras eram como um mantra para mim, algo que me dava forças para continuar, mesmo quando tudo parecia conspirar contra. Quando me mudei para uma cidade nova e comecei a morar sozinho, percebi que esse sonho vinha acompanhado de desafios que eu nunca imaginei enfrentar.
A sensação inicial foi uma mistura de euforia e medo. Era emocionante poder dizer: "Eu moro sozinho!", mas, ao mesmo tempo, a realidade era dura. As ruas alagadas, que muitas vezes tornavam meu deslocamento um teste de paciência e resistência, eram apenas uma parte do que eu enfrentava. O preconceito, que nunca desaparecia completamente, agora parecia mais evidente em algumas situações. Olhares de julgamento, falta de acessibilidade e a necessidade de provar meu valor eram desafios diários.
Houve momentos em que eu me perguntei se tudo isso valia a pena. Como quando precisei improvisar soluções em casa por conta de problemas estruturais, ou quando o silêncio das noites solitárias pesava no meu coração. Mas, a cada obstáculo superado, algo dentro de mim crescia. Eu percebia que viver sozinho era mais do que apenas um desejo, era uma prova de que eu podia enfrentar o mundo de igual para igual.
Eu aprendi a lidar com os imprevistos, a organizar minha rotina, a cuidar de mim mesmo. Pequenas vitórias, como preparar minha própria comida, resolver problemas domésticos ou simplesmente voltar para casa depois de um dia cansativo, me mostravam que eu estava no caminho certo. E, acima de tudo, morar sozinho me deu uma coisa que eu sempre busquei: a sensação de pertencimento à minha própria vida.
Cada dificuldade valeu a pena pelo simples fato de poder dizer que eu conquistei esse espaço, essa liberdade. Não importa quantas vezes o mundo tenha tentado me empurrar para trás; eu continuei caminhando, mesmo com os pés molhados nas ruas alagadas ou com o peso dos olhares preconceituosos. A conquista de morar sozinho não é só um marco na minha vida, é um símbolo da minha força, da minha determinação, e da certeza de que, independentemente dos desafios, eu sempre vou buscar ser dono da minha própria história.
Porém, a pandemia de COVID-19 trouxe incertezas que eu nunca tinha imaginado enfrentar. Aquele período, que começou como algo distante, rapidamente tomou proporções gigantescas, afetando não apenas minha rotina, mas também minhas escolhas e sonhos. Foi um momento de muita reflexão, medo e adaptação. Apesar de toda a minha determinação e vontade de seguir em frente sozinho, a realidade da pandemia me fez repensar as coisas.
A incerteza de como tudo seria — desde a saúde, a economia, até a própria sobrevivência no dia a dia — pesou sobre mim de uma forma que eu não podia ignorar. O isolamento social, a ansiedade de lidar com algo tão desconhecido, e o receio de enfrentar tudo isso sem um sistema de apoio próximo, me levaram a tomar a difícil decisão de voltar para a casa dos meus pais.
Foi uma decisão que me partiu o coração. Eu sentia que estava abrindo mão de um sonho que lutei tanto para conquistar. Voltar para casa era como dar um passo atrás na busca pela minha independência, algo que era tão central para quem eu sou. Ao mesmo tempo, eu sabia que, diante de uma crise global como aquela, precisava priorizar minha segurança e meu bem-estar.
Estar de volta à casa dos meus pais foi um misto de alívio e desconforto. Por um lado, era bom ter o apoio emocional e físico deles, principalmente em um momento tão incerto. Mas, por outro, eu sentia que estava perdendo um pedaço de mim, como se tivesse que reconquistar aquela autonomia que tanto valorizava.
A pandemia foi um teste de paciência e resiliência. Ela me ensinou que, às vezes, recuar não é sinal de fraqueza, mas de inteligência e cuidado consigo mesmo. Voltar para casa não significava que eu tinha desistido dos meus sonhos, mas que estava me preparando para enfrentá-los novamente, com mais força e aprendizado.
Foi um período em que refleti muito sobre o que realmente importa e aprendi que, mesmo nos momentos mais difíceis, a busca pela independência não está apenas no lugar onde vivemos, mas na forma como enfrentamos os desafios e nos adaptamos às mudanças. E eu sabia, no fundo, que aquela era apenas uma pausa, não o fim da minha jornada.
Mas não vou desistir. Meu sonho de viver com independência ainda pulsa com força dentro de mim, e estou disposto a lutar com tudo o que tenho — suor, sangue e muito sacrifício — para tornar isso realidade novamente. Desta vez, porém, quero ir além. Não se trata apenas de morar sozinho, mas de conquistar algo maior: minha casa própria.
Imagino cada detalhe desse lugar que será meu refúgio e meu símbolo de vitória. Uma casa adaptada, feita para atender todas as minhas necessidades e proporcionar o conforto que mereço. Um banheiro no quarto, para garantir praticidade e privacidade. Um espaço dedicado aos exercícios, onde posso manter meu corpo ativo e minha mente em equilíbrio. E, acima de tudo, um ambiente que eu possa chamar de lar, construído com minhas escolhas e meu esforço.
Também já sei onde quero estar. Pretendo me mudar para o interior, onde as ruas são mais planas e acessíveis, e onde tudo está mais próximo e conectado. A ideia de viver em um lugar tranquilo, com uma qualidade de vida melhor, me enche de esperança. Quero uma vida mais simples, mas com as oportunidades que me permitam continuar crescendo e explorando meu potencial.
Sei que não será fácil. Construir essa nova etapa exigirá paciência, determinação e muitas batalhas. Mas se tem algo que a vida já me ensinou é que os desafios não são barreiras, são testes. E cada vez que os enfrento, saio mais forte e mais preparado para o que vem pela frente.
Essa jornada é minha, e eu não vou parar até alcançar esse sonho. Minha casa própria não será apenas um teto sobre minha cabeça, mas um marco da minha luta, um símbolo de que a perseverança vence. Um lugar onde poderei viver plenamente, com liberdade e dignidade, como sempre sonhei. E cada passo que dou nessa direção, por mais difícil que seja, me aproxima cada vez mais desse futuro que sei que vou conquistar.
Chegando ao fim desse relato, quero compartilhar algo que representa não apenas a minha história, mas também meu coração. Ao longo da minha jornada, transformei desafios em palavras e cicatrizes em poesia. Assim nasceram os meus livros: "Sou Diferente e Escrevo Minha História" e "Entre Linhas e Cicatrizes: A Poesia de Viver Sem Metades".
Essas obras são mais do que páginas preenchidas — são um pedaço de mim, minha alma exposta para o mundo. São relatos sinceros de alguém que, apesar das adversidades, nunca desistiu de sonhar, de lutar e de acreditar que a vida pode ser melhor.
Agora, peço a você que, de alguma forma, me apoie nesta caminhada. Seja com um compartilhamento, uma palavra de incentivo ou um gesto financeiro, por menor que seja, tudo faz diferença. Até mesmo 1 centavo, vindo do coração, tem um valor incalculável.
Meu Pix é brunosentirvibe@gmail.com, e sua ajuda será usada para continuar essa luta pela minha independência, autonomia e, acima de tudo, qualidade de vida. Não estou pedindo apenas por mim, mas também por todos aqueles que, assim como eu, buscam realizar sonhos que pareciam impossíveis.
Cada gesto de apoio é um tijolo na construção desse futuro. Juntos, podemos mostrar que, apesar de todas as dificuldades, a vontade de viver plenamente é o que nos torna verdadeiramente humanos. Obrigado por fazer parte dessa história! 🙏